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  • Bruna Vinsky

Técnica Meisner


Apresentação: Este projeto foi contemplado pelo Edital

de Fomento da Juventude do Fundo de Arte e Cultura de Goiás 2018.




GUIA DEFINITIVO DA TÉCNICA MEISNER de “The Definitive Guide to the Meisner Technique” by Alex Ates

publicado em 03/04/2019 no site backstage.com

Traduzido por Bruna Vinsky em 06/2020


Provavelmente, você já ouviu a frase: “Atuar é viver de verdade sob circunstâncias imaginárias” [princípio Stanislavskiano]. Essa frase forjou a missão do lendário guru da atuação Sanford Meisner, cujas técnicas moldaram a compreensão americana do que se qualifica como uma boa atuação.


Na década de 1920, o teatro americano mudou permanentemente quando o Teatro de Arte de Moscou fez uma turnê pelos Estados Unidos, inspirando alguns jovens e curiosos atores de Nova Iorque a adotar o Sistema Stanislavski e a modificá-lo, enfatizando aspectos específicos da técnica. O estilo russo de atuação encantou os atores americanos por causa de seu naturalismo, trabalhado por uma técnica interior de atuação, muito diferente do estilo de apresentação que antes dominava a performance americana. A técnica naturalista se espalhou rapidamente pela América, porque coincidiu com a evolução do cinema e a ascensão de Hollywood — que exigia um estilo de atuação com mais nuances por causa da proximidade das lentes das câmeras.


Sanford Meisner, filho de imigrantes judeus da Hungria, já atuava quando o Sistema emigrou para a América. Como membro do icônico Group Theatre (grupo de atuação americano que visava desbancar o movimento russo) Meisner se tornou um ator notável, mas sua verdadeira vocação, como ele descobriria, era se tornar um professor para atores.


Na escola Neighborhood Playhouse, em Nova Iorque, Meisner desenvolveu sua técnica autointitulada, encorajando uma abordagem de atuação que transmitisse naturalismo, mas sem intelectualizar demais o processo. Os métodos de Meisner, que ainda são frequentemente usados ​​em salas de aula de teatro até hoje, se distinguem porque são propositadamente repetitivos. Enquanto muitos atores testemunham que seus exercícios são a chave para desbloquear personagens autênticos, outros fazem cara feia quando as táticas monótonas de Meisner são relembradas.



QUEM FOI SANFORD MEISNER?


Sanford Meisner foi um americano, ator e professor de atuação, que criou a técnica Meisner. Desde muito jovem, Meisner sabia que queria ser ator. Depois de estudar piano no conservatório que mais tarde se tornaria a prestigiosa Juilliard School, ele treinou com a companhia Theatre Guild, onde conheceu Harold Clurman — cofundador do The Group. Clurman apresentou Meisner a Lee Strasberg, cujas interpretações do Sistema Stanislavski se manifestariam como a icônica técnica de atuação conhecida como Método. Clurman e Strasberg exerceram enorme influência sobre Meisner, que na época era um jovem empolgado de 20 e poucos anos, e o puxaram para a compor o The Group como membro fundador.


Foi na formação do The Group que Meisner conheceu a atriz Stella Adler — que era aluna de dois atores treinados por Stanislavski no Teatro de Arte de Moscou, que haviam sido transportados para a América. Adler acabaria desenvolvendo uma receita de atuação inspirada diretamente na prática russa, que [apesar de também influenciar] rivalizava com a abordagem de Meisner.


No limitado tempo de vida do The Group, a abordagem de Strasberg foi vista como reveladora e, eventualmente, ridícula. Strasberg enfatizou o princípio de Stanislavski de memória emocional. Essa obsessão deixou Stella Adler descontente, vendo a abordagem como uma manipulação psicológica sobre atores menos experientes. Indignada e cansada da disputa, Adler se encontrou com Stanislavski em Paris e confirmou com o próprio criador do Sistema que a abordagem de Strasberg estava errada.


Quando Adler retornou aos Estados Unidos a maré se virou contra Strasberg, os integrantes do The Group tiraram o foco da memória emocional para dar ênfase às circunstâncias dadas — que são as condições que influenciam as decisões de um personagem. Essa mudança ideológica fez com que Strasberg renunciasse ao The Group para então liderar o Actors Studio. A mudança ideológica causou mais separações na trupe, com Meisner se alinhando à rebelião provocada por Adler.


Com o redirecionamento do foco para as circunstâncias dadas, abriu-se espaço para que Meisner inserisse sua adaptação única sobre a abordagem. Enquanto Adler seguiu um caminho de treinamento dos atores para que tivessem uma vida imaginária rica, que desse vida às necessidades das circunstâncias dadas de uma cena, Meisner sentiu que essa abordagem mental era interna demais. Em vez disso, ele enfatizou que um ator devia ter sua criatividade instigada por uma feroz atenção sobre o outro ator, criando uma tensão visível ao público.


No Neighbourhood Playhouse, Meisner criou um sistema de práticas projetadas para despertar alternativas autênticas de interpretação, por impulsos orgânicos provocados pelo parceiro de cena [que é mais um princípio indicado no Sistema Stanislavski].



ELEMENTOS CHAVE DA TÉCNICA MEISNER


A técnica Meisner tem três componentes principais que funcionam em conjunto:


Preparação emocional — Repetição — Improvisação


Meisner sentia que o processo de ativação da memória afetiva, em cena, consequentemente tirava o ator do momento presente, contrariando seu princípio fundamental era a presença e a observação intensa dos parceiros de cena. Nesta prática as escolhas, inspirações e provocações devem ser inspiradas pelo relacionamento com outra pessoa — o que não apenas aprofunda a consciência do ator, mas também exige que cada ator faça escolhas decisivas que provoquem reações criativas no outro. Dessa forma, Meisner encorajou um ecossistema simbiótico de cena, em que cada ator deve construir um ao outro. Isso é parte do que ele chamou de preparação emocional.


A base da técnica Meisner é a repetição, capaz de remover a pompa estética da atuação e também tira os atores de seu fluxo mental, para que possam confiar em seus instintos mais orgânicos. Meisner ensinou que são esses instintos autênticos, provocados por outra pessoa no momento presente, que captam um comportamento humano realista. A repetição também cria um processo de preparação que dá ao ator coragem e confiança para se sentir confortável em cena.


Meisner pregava que nenhuma escolha deve ser feita até que uma força provoque essa escolha, justificando-a. Se um ator responde apenas a estímulos justificados e orgânicos de forma improvisada ele está-no-momento, atento aos estímulos significativos. Isso é o que cria as circunstâncias dadas das cenas. Meisner ensinava que uma vez que o ator tem noção clara das circunstâncias dadas, inspiradas pelos estímulos, ele pode criar uma vida interior abundante para o personagem.


Meisner também enfatizou o conceito stanislavskiano dos “ses mágicos”. Meisner incentivou seus alunos a usarem experiências pessoais significativas para dar vida a textos dramáticos, caso necessário, mas somente no primeiro reflexo — após o qual se deve seguir com a prática de comunhão com o colega de cena pela repetição improvisada, para encontrar as emoções, ações e reações certas.


Sobre o Autor

“Alex é de Nova Orleans, Louisiana, e planeja estudar teatro, ativismo, educação

e o Sul dos Estados Unidos na Gallatin. Alex é diretor de teatro em Westtown, uma escola K-12 Quaker na Pensilvânia. Para a revista Backstage, ele foi um repórter da indústria cobrindo sindicatos, #MeToo, Time’s Up, diversidade e Covid-19 — junto com a redação de guias educacionais de ampla circulação sobre técnicas de atuação.” (tradução livre do inglês, site gallatin.nyu.edu)



EXERCÍCIOS


Meisner teve a lucidez que faltou a Strasberg. Se antes ele divergia da abordagem de Adler, dando ouvidos à interpretação de Strasberg, depois do encontro dela com Stanislavski isto mudou completamente. Sanford Meisner demonstrou sensatez e flexibilidade, não teve receio em rearranjar suas abordagens, acreditou em Stella Adler e trilhou um caminho que certamente não desagradou o autor do sistema, considerando que não deturpou nenhum de seus ensinamentos, conforme entendidos pelo autor.


Como já temos muitas indicações de exercícios sobre os outros aspectos, darei foco aos exercícios de repetição, que é uma proposta própria de Meisner, agregada aos outros aspectos que ele adota do sistema. A ênfase que ele dá em importância ao trabalho entre atores, é algo que o diferencia das outras escolas de preparação, porém também já era algo indicado nas instruções do Sistema Stanislavski.



(O ideal é praticar em dupla, pelo menos, e era este o planejamento, mas devido à pandemia foi necessário ampliar o conceito de “presença” para incorporar um formato seguro de contracenação — optei pelo formato de chamada de voz e de vídeo, que apesar de não ideais ainda pertencem naturalmente à realidade, quanto mais na realidade brasileira pandêmica.)




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Bruna Vinsky

Produtora, formada em teatro, bacharelando em cinema e pesquisadora no campo da preparação

de elenco.

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