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  • Bruna Vinsky

A prática de Stella Adler

Apresentação: Este projeto foi contemplado pelo Edital

de Fomento da Juventude do Fundo de Arte e Cultura de Goiás 2018.




GUIA DEFINITIVO DA TÉCNICA DE STELLA ADLER de “The Definitive Guide to Stella Adler’s Acting Technique”

por Alex Ates - publicado (24/12/2018) em backstage.com

Tradução livre por Bruna Vinsky em 05/2020


Quando pensamos no Método de Atuação — ou apenas o Método — podemos ser inundados de emoções conflitantes e opiniões contraditórias. Embora o Método seja inegavelmente o estilo americano predominante, ele também é cercado por muitas controvérsias e mistérios. Vários atores de altíssimo nível, como Marlon Brando, Daniel Day-Lewis, Marilyn Monroe e Angelina Jolie, entre tantos outros, vestiram o estilo de atuação como num desfile de moda. O Método é frequentemente associado ao professor de atuação Lee Strasberg — que era conhecido por sua indiferença, acessos de raiva e ênfase no uso de uma ferramenta controversa nos atores, a memória emocional, no trabalho de cena. O Método de Strasberg foi uma resposta ao método de Constantin Stanislavsky, chamado de Sistema — que foi desenvolvido no Teatro de Arte de Moscou no início de 1900.


Portanto, o mito em torno das técnicas interiores de atuação — onde os atores investem numa profunda interpretação psicológica e mental dos personagens, baseados em suas circunstâncias — muitas vezes foi dominado por homens.


No entanto, desde o início havia uma mulher que não estava alegre com isso e ela agarrou o Método Americano pelos chifres. Essa mulher era Stella Adler, uma artista e professora com uma força de vida tão intensa que seu legado de treinamento não apenas vive ainda hoje, como também cresce em consideração e aclamação. Embora Adler tenha morrido em 1992, seus estúdios, que levam seu nome, estão ativos e vão muito bem em Nova York e Los Angeles — ser aceito neles é considerado um símbolo de excelência para jovens atrizes e atores. A seguir, vamos responder a algumas perguntas sobre a rainha da técnica de atuação americana e por que sua feroz rebelião foi tão crítica sobre a forma como os atores se preparam nos dias de hoje.



QUEM FOI STELLA ADLER E POR QUE ELA É TÃO ACLAMADA?


Stella Adler nasceu em uma das famílias de atuação mais populares da cena teatral iídiche de Nova York. Ela estava no palco desde tenra idade e os talentos que ela não herdou geneticamente, ela aprendeu e ganhou com a experiência. Para a família Adler, as luzes e os aplausos do palco eram tão familiares em seu dia a dia quanto ler o jornal ou tomar uma xícara de café. Stella Adler demonstrou alguns traços iniciais distintos que acabariam por iluminar seu caminho rumo à composição do DNA da atuação americana. Ela não era apenas considerada uma atriz legitimamente habilidosa, mas também era ferozmente intelectual. Foi essa combinação de profissionalismo e proficiência, juntamente com sua habilidade intelectual afiada, que preparou Adler para estar entre os grandes — e mais respeitados — gurus da atuação.


Na década de 1920, atores que treinaram pessoalmente com Stanislávski, no Teatro de Arte de Moscou, chegaram aos Estados Unidos para fazer uma turnê das produções russas e dar aulas para entusiasmados atores americanos. O status quo para atuar nos Estados Unidos estava enraizado em grandes e largos gestos e expressões plastificadas. Então, quando os atores de Stanislávski chegaram e demonstraram um estilo de atuação mais sensível, intrincado e naturalista, os americanos ficaram tão pasmos quanto desesperados para aprender.


Para atores intelectualmente curiosos de Nova York, como Adler, a chegada do Sistema foi como um raio — os americanos estavam lutando com o que significava ser um ator. O Sistema colocou toda uma técnica no colo de artistas que estavam sedentos por uma linguagem que descrevesse o trabalho de um ator. E — o mais importante — a técnica fazia sentido na teoria e na prática!


Adler começou a estudar com os atores russos Maria Ouspenskaya e Richard Boleslavsky no American Laboratory Theatre em Nova York. A família de Adler zombou dela por fazer o treinamento, mas o modelo russo de teatro intelectualizado expandiu o cérebro academicamente inclinado de Adler. Por causa de sua experiência crescendo no palco, Adler era a aluna mais avançada da escola e foi convidada a se juntar ao Group Theatre, que foi co-fundado por Lee Strasberg, diretor artístico do Actors Studio.


The Group — e seu estilo de atuação inspirado em Stanislavsky — distinguiu-se como um grupo revolucionário e até hoje seu trabalho é considerado histórico. No entanto, Adler estava descontente e frustrada com a direção e os ensinamentos de Strasberg. Lee Strasberg, que nunca conheceu Stanislávski pessoalmente, insistiu em adaptar o Sistema de acordo com sua interpretação, dando ênfase ao trabalho da memória emocional, sua versão do conceito de memória afetiva proposto por Stanislaviski. Adler sentiu que a prática de mergulhar em memórias e experiências pessoais, para ganhar veracidade no palco, não era somente desnecessária, como também torturante. E, por Adler ser uma das atrizes mais experientes do grupo, ela acreditava que a ênfase no uso de estímulos a partir das memórias pessoais exercia manipulação sobre os atores, especialmente nos mais jovens e ingênuos do grupo. Então, o que Adler fez? Ela atravessou o oceano para indagar o próprio Stanislávski e provar que Strasberg estava errado.


Nesta época Stanislávski estava em Paris, Adler o abordou dizendo que ela adorava o teatro até ele aparecer, pois agora ela odiava. Este testemunho à queima roupa intrigou o sempre curioso Stanislávski e ele então a convidou para fazer preparação com ele. Em Paris, Stanislávski não apenas esclareceu seus ensinamentos, mas também compartilhou com Adler sua evolução de pensamento. Stanislávski estava sempre refinando suas técnicas, mas a versão desatualizada do Sistema se enraizou nos Estados Unidos na época em que seus alunos do Teatro de Arte de Moscou começaram a ensinar na América, enquanto seus livros eram traduzidos para o inglês. A principal fonte de desatualização? Memória afetiva. Stanislávski já havia se afastado completamente deste conceito! Então, no momento de seu encontro, o pai do Sistema validou a visão crítica de Stella Adler sobre a abordagem de Lee Strasberg.


Apesar do esclarecimento, o ponto crucial do Sistema permaneceu o mesmo: os atores devem se comportar de forma realista em situações irreais, enfatizando as circunstâncias do personagem e encontrando ações dentro dessas circunstâncias para se desempenhar integralmente no palco. Mas de onde chegaria a motivação para essas circunstâncias senão da própria vida do ator? Adler insistiu na imaginação, e Stanislávski concordou! Afinal, um ator é um artista e a maior ferramenta de um artista é a sua capacidade de imaginar. Então, Adler voltou aos Estados Unidos e começou a professar suas teorias aprovadas por Stanislávski. Assim, Adler se tornou o único guru americano ativo que realmente estudou com o criador do Sistema — e teve suas bênçãos.


Atores americanos clamavam para estudar com Adler em seu retorno a Nova York. Durante os anos restantes, muitas vezes sentada em uma cadeira semelhante a um trono, Adler eletrizou seus alunos com instruções desafiadoras, observações diretas e sermões sobre a dignidade de atuar como um estilo de vida, e os atores amavam por isso.



ELEMENTOS CHAVE DA TÉCNICA DE ADLER


Como Adler cresceu em uma família de atores profissionais, ela acreditava que atuar era, bem, um estilo de vida. Essa crença se manifestou numa resiliente insistência por disciplina — e este talvez seja o elemento essencial da técnica de Adler (até mesmo sobre o uso da imaginação). Adler ensinou que a imaginação só pode ser cultivada se um ator estiver examinando consistentemente as nuances da vida. Quando um ator deliberadamente percebe as texturas, estética e sons da vida cotidiana, o poder da imaginação se expande e a caixa de ferramentas do ator aumenta.


Uma vez que a imaginação dos atores esteja repleta de estímulos, eles podem invocar imagens mentais detalhadas e realistas das quais extrair inspiração verdadeira no palco. Quando essas imagens são matizadas e texturizadas, e quando o ator pode expressar autenticamente os detalhes de suas imagens mentais para o público, o ator proporciona uma qualidade verossímil a sua atuação.


Talvez o terceiro elemento mais importante a destacar da técnica de Adler, seja o foco em identificar, articular e expressar as circunstâncias de um personagem. Adler ensinou seus atores a interpretar o texto para os elementos-chave que ditam a natureza do personagem — seja ela social, econômica, religiosa, geográfica… essa lista pode continuar, indefinidamente. A partir daí, o ator deve fazer duas coisas: primeiro, deve identificar maneiras de transmitir essas circunstâncias por meio da conclusão de uma ação (algo que o personagem faz para obter do outro personagem uma resposta desejada específica). Em segundo lugar, o ator deve cruzar a referência das circunstâncias do personagem com o que o ator observou na vida, sobre como essas circunstâncias se manifestam na sociedade.


Sobre o Autor

“Alex é de Nova Orleans, Louisiana, e planeja estudar teatro, ativismo, educação e o Sul dos Estados Unidos na Gallatin. Alex é diretor de teatro em Westtown, uma escola K-12 Quaker na Pensilvânia. Para a revista Backstage, ele foi um repórter da indústria cobrindo sindicatos, #MeToo, Time’s Up, diversidade e Covid-19 — junto com a redação de guias educacionais de ampla circulação sobre técnicas de atuação.” (tradução livre do inglês, site gallatin.nyu.edu)


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Bruna Vinsky

Produtora, formada em teatro, bacharelando em cinema e pesquisadora no campo da preparação

de elenco.

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